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Terça-feira, 10 de Janeiro de 2012
Maçonaria: trauma de infância...
Isto é uma dedicatória ao Streetwarrior, pelo seu combate sem tréguas contra a maçonaria.
Tenho cá uma fezada que a maçonaria, muito falada actualmente em Portugal, é um trauma que se manifesta em homens adultos, mas que foi provocada durante a infância por uma grande carência de brincadeira devido certamente a pais demasiadamente ambiciosos ou opressores. Todos nós, à excepção dos maçons, tivemos durante a nossa infância um sítio escondido, secreto, que só nós e os nossos amigos mais íntimos conheciam. Refiro-me nomeadamente, mas não só, ao brincar às cabanas. Nos maçons essa necessidade premente de recrear a experiência das cabanas, do só-nós-é-que-sabemos, aparece inevitavelmente tarde, quando já são adultos. E é compreensível que a coisa tenha que ser mantida em segredo. Ninguém gosta de apregoar as suas taras aos sete ventos! Sejam elas brincar com comboios eléctricos, soldados de chumbo ou vestir um avental de couro e celebrar ritos estranhos…
A minha cabana e dos meus capangas, no bairro do Cedro em Gaia, encontrava-se a 6 metros de altura, no topo de um carvalheiro milenar situado num espécie de jardim junto à escola. Aí passamos grande parte da nossa infância contando anedotas, trocando cromos de futebol ou fazendo considerações sexuais sobre as mulheres que passavam por baixo sem nos ver – havia mesmo quem aproveitasse o momento para ‘esfolar o galho’, passe a expressão mas fica muito bem neste contexto. Até cagar lá de cima era possível, tal era o nosso à vontade no topo desta árvore! Os cagalhões estatelavam-se no início do tronco, o que impedia durante uns dias outros de iniciar a já de si difícil escalada. maçon antes de colocar o avental
E assim passávamos as férias de verão, como tantos outros rapazes espalhados pelo país: ouvindo Beatles e gravando peidos num gravador de fita no quarto dos Rufinos até altas horas da madrugada. Os peidos, filtrados por um amplificador e reproduzidos com muitos decibéis através de colunas poderosíssimas acordavam a família e a vizinhança e provocava em nós uma alegria infinda e uma galhofa que durava horas – isso sem ajuda de haxixe ou outros estimulantes de que nós ainda não conhecíamos a existência. Enfim, era melhor do que sexo, coisa que também só conhecíamos de revistas. E a falta
de sexo impelia-nos inevitavelmente para actividades agressivas. Como por exemplo combates de bolotas. Era perigoso e aleijava pra caraças, mas sempre era menos grave do que atirar pedras em direcção de um bairro limítrofe, chamado “bairro das quatrocentas”(era constituído por 400 casas). Para chegar às quatrocentas as pedras tinham que descrever um arco por cima da auto-estrada A1 que separa os dois bairros e que tinha sido acabada de construír, ligando apenas o Porto aos Carvalhos. É claro que havia sempre uns nabos que não conseguiam lançar as pedras para o outro lado e elas caiam encima dos carros! Na altura o facto foi publicado nos jornais e visto como acto de vandalismo contra automobilistas! Mas não, era apenas aselhice. Confesso que nunca acertei num carro. Não é para me gabar, mas atirar pedras a grande distância era dos melhorezinhos…
E quando não jogávamos futebol, o nosso ‘core business’ a seguir a tocar à sebastiana, roubávamos fruta em Laborim (zona rural). Aproveitando logo a seguir para nadar numa presa de água, conhecida pela “presa das senhoras” e que ficava junto a uma mina abandonada de volfrâmio. Entre dois mergulhos penetrávamos por vezes no interior da mina para caçar morcegos, libertando-os mais tarde em sítio que pudesse assustar gente, e os pobres morcegos. Enquanto uns nadavam, outros cabrões havia que se divertiam a “ferrar a pulga”: dar um nó bastante esticado nas peúgas ou calças dos incautos! Imagine-se a filha-da-putice, uma pessoa querer vestir-se e não poder…
Na tal presa tínhamos frequentemente um conflito de interesses com o lavrador dos campos anexos. Eu explico. O lavrador servia-se da presa como fonte de rega para o seu milheiral, e por isso, quando julgava oportuno, abria uma das extremidades para a água poder correr livremente para os seus campos. O nosso interesse era precisamente contrário: fechar a presa o mais depressa possível para que houvesse água suficiente para nadar e dar um cafunho sem enterrar os cornos no lodo depositado no fundo da presa. Quando o lavrador, a centenas de metros da presa, notava que a água não corria, vinha sorrateiro entre o milho armado com uma vara (a gente dizia fueiro) e, sem dizer água vai, toca de malhar em todo aquele que não fugisse a tempo ou mergulhasse na presa…
Por vezes algum de nós antecipava a chegada do lavrador, avisando imediatamente a malta com a palavra de ordem que todos nós conhecíamos: OLH’ Ó VELHOTE…. Era o sinal para recolher a roupa e em pêlo atravessar o milheiral (que sofria bastante) em correria desenfreada. Do outro lado do campo de milho havia um tanque onde mulheres lavavam a roupa. Ao verem-nos passar a correr naqueles propósitos: nus, descalços e com a roupa debaixo do braço, havia sempre uma que exclamava: ISTO É GANDULAGE DO CEDRO…
Da gandulage do Cedro, que eu saiba, nenhum ingressou na maçonaria….
Delicioso este seu texto, somos mesmo da mesma geração e pelos vistos do mesmo meio social, vocês banhavam-se num tanque e nós no Rio Douro, empoleiravam-se numa árvore, nós refugiávamo-nos numa gruta natural na antiga ilha do Trinta saltando um muro nas Escadas do Barredo, “esgalhava-se” para ver quem chegava primeiro, quanto à fruta, como não haviam pomares, ia-se às camionetas que estavam a descarregar no mercado Ferreira Borges, aos caixotes e aos cachos de bananas pendurados à porta das mercearias.
As pedradas, serviam para tudo, desde as guerras Sé/Ribeira à tentativa de acertar em qualquer coisa, os alvos preferidos eram as guaritas da guarda-fiscal junto ao rio.
Ainda há dias falei com uma pessoa amiga sobre as minas da serra de Laborim.
O vosso “OLH’ Ó VELHOTE” era o nosso OLH’ Ó POLÍCIA.
Espero que não leve a mal eu publicar no meu blogue este seu texto que me deu a mesma sensação de viagem no tempo tal qual os livros do Germano Silva, para terminar e por falar em polícia, parece que ainda sinto as correadas do meu pai no dia da minha comunhão solene.
Levantei-me por volta das sete da manhã para tomar banho e vestir o fatinho com aquele laço no braço, as primeiras calças compridas, à homem, até esse dia, fizesse calor ou frio, andei sempre de calções, devia ser para cicatrizar melhor os joelhos que andavam quase sempre esmurrados.
Voltemos ao dia da comunhão, lá fui para a igreja, por volta das dez horas já quase não via com a fome, era quase uma da tarde quando acabou a cerimónia, deram-nos um saquito de plástico com uns biscoitos e um Sumol, entretanto tínhamos de esperar pelo diploma, os velhos foram para casa adiantar o almoço melhorado. Logo apareceu uma bola de plástico para uma partida no adro enquanto o senhor abade não fazia a chamada para a entrega do certificado, para não esmurrar o verniz dos sapatos tirei-os e às peúgas, tínhamos dados uns toques quando apareceu o mono, foi a debandada em direcção à igreja, ficando para trás sapatos, coturnos e bola, praí uns vinte pares estavam alinhados na soleira da porta da escola da Protectora à Infância que ladeava o adro da Igreja de Santa Clara, era mesmo ao lado do Aljude, o guarda não conseguiu levar todos, levou os meus, azar.
Imagine o quadro quando cheguei a casa, todo aprumadinho e descalço, ainda ia a meio da explicação e já tinha levado quatro bufardos do velho, nem mudei de roupa, toca a andar para a esquadra, eu à frente o meu pai atrás.
Abreviando, voltei a levar nas ventas na esquadra e quando cheguei a casa, almoço? De grilo.
Falta só acrescentar que o meu pai era polícia e eu era daqueles que tinha a mania que era duro, levava mas não chorava, era burro!
Abraço.
PS: Os tais "cagalhões" usavam-se muito nos puxadores dos carros de quem a malta não gostava, até o da porta do comandante da PSP não escapou.
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