sábado, 3 de março de 2012

Luis Marinho x Miguel Sousa Tavares


Lembras-te, Miguel?

por LUÍS MARINHO, Diretor-geral da RTP

Surpreendeu-me este teu tão oportuno "acesso de memória". Quando li o que escreveste sobre mim no último sábado, não quis acreditar.
Afinal, falavas de quê? Acusavas-me de te ter afastado da rádio, há oito anos - oito anos -, habilidosamente, porque criticavas o Governo de Santana Lopes?
E tu, que percebeste a "jogada", saíste sem barulho? Para o "implacável" e "inconformado" Miguel Sousa Tavares, é, no mínimo, estranho. Oito anos depois - oito anos - acordaste, finalmente? Confesso, portanto, que fiquei surpreendido. Mais do que surpreendido. Ofendido. Afinal, oito anos, para a nossa idade, já é obra.
Como me consideras um jornalista menor, vou ter de te explicar o que fiz para verificar os factos e, obviamente, responder-te. E provar que estás a mentir.
Primeiro passo: recorri às minhas agendas - oficiais e particulares - para verificar datas, reuniões, etc.. Segundo passo: consultei nos arquivos da rádio os alinhamentos das emissões, para ver onde se situavam as tais crónicas de que falas, tão "incómodas" para o Governo e, claro, para mim.
Pois bem: não tinhas qualquer espaço fixo para crónica. O que existia, à época, no que respeita a espaço fixo de comentário político, era o Veredicto, emitido às 08.40, cuja composição era, ao longo dos cinco dias úteis da semana: Carlos Magno, Raul Vaz, Nicolau Santos, Luís Delgado e José Manuel Fernandes.
No espaço de tempo de que falas, e até muito antes, apesar de manteres uma avença mensal fixa com a rádio - talvez irrelevante para ti, mas pesada para a rádio -, só comentavas a atualidade política a pedido dos editores dos diferentes espaços informativos.
E, vê lá tu, Miguel, o que me recordaram os que ainda lá estão: "O Miguel? Mas ele raramente atendia o telefone de manhã..."
Estavas mais ou menos disponível à noite, que, como sabes, é um péssimo horário para a rádio, em termos de audiência. A manhã, como deverias saber, é o prime time da rádio.
No ano de 2004, tenho registado na minha agenda três encontros contigo: o primeiro, dia 1 de março, em tua casa, para onde me convidaste para almoçar uma deliciosa perdiz, cozinhada por ti.
O segundo, que tenho com interrogação (eventualmente não se realizou), às 16.30 do dia 23 de setembro.
O terceiro, às 15.30 do dia 28 de setembro. Reunimo-nos no meu gabinete e convidei-te para integrar um painel de um programa de debate dos temas da semana, que queria lançar na rádio. Apenas isto. Aquilo que tu afirmas ter sido "uma conversa circular, acabando por confessar que achava que a minha crónica devia ser substituída por outro tipo de intervenção qualquer, talvez enquadrada com outros, e na qual ele iria meditar", foi apenas este convite. O programa seria o Contraditório, que arrancou no dia 22 de outubro de 2004, com um painel composto por Carlos Magno, Luís Osório e Luís Delgado e moderado por mim. O programa ainda hoje existe, moderado por João Barreiros, com Luís Delgado, Raul Vaz e Ana Sá Lopes.
Mas, Miguel, esqueci-me de que tu estás muito acima do comum dos mortais jornalistas.
Quanto à hipótese de confronto de ideias, nem pensar. A tua especialidade é, sem dúvida, falar sozinho.
Na altura, quando decidiste sair da rádio, não deixaste transparecer qualquer problema de consciência. Ias dedicar-te, com mais afinco, à escrita. Depois disso, almoçámos duas vezes: a primeira, no dia 13 de fevereiro de 2006, e a segunda, suponho que em novembro de 2007, porque tenho um registo no dia 14.
Neste último almoço, perguntei-te se encaravas a hipótese de regressares à RTP, ou num espaço de comentário ou de debate, como já tinhas protagonizada na SIC, nos anos 90. Disseste-me, na altura, que não querias sair, de imediato, da TVI, até por solidariedade com José Eduardo Moniz. Lembraste-me também de que a RTP não deveria conseguir pagar-te o que ganhavas na TVI. E assim nos despedimos. Cordialmente.
Estes são os factos, que um anónimo e irrelevante jornalista como eu registou.
A minha iniciação no jornalismo, há mais de 30 anos, na rádio e nas agências noticiosas, foi mesmo na escrita de notícias. Sei que, na esmagadora maioria dos casos, não dão notoriedade a quem as faz. Dão trabalho. Exigem rigor. Implicam ter fontes, confrontá-las. Mas são elas, as notícias, que ainda movem o mundo.
Portanto, Miguel, acusas-me de te ter silenciado na rádio pública. Porque eras incómodo. Pois bem. Silenciado já estavas, por tua exclusiva vontade. De manhã, não estavas para ninguém. Quando quis que tivesses voz num programa de debate, não aceitaste.
E assim se faz mais uma história de "silenciamento" e, porque não, de "censura". E assim continuas a fazer o teu jornalismo superior. Calculo que também entendas, por maioria de razão, que "Portugal também muito te deve".
Falas também de consciência.
Pois bem. Falemos então de consciência e, também, de coerência.
Em maio de 1991, numa entrevista à revista Kapa, quando te perguntaram "o que é hoje a RTP?", afirmaste o que passo a transcrever: "Não existe a RTP. Existe a TV do José Eduardo Moniz. Está ali para se servir, e o preço que tem a pagar é servir o poder, seja o PS que o meteu lá, não esqueçamos... seja o PSD ou outro qualquer. Este tipo de gente serve todos os regimes. Mas ele não é eterno: não pode ir mais acima porque já está no topo da empresa, é quem manda mais. Portanto, a esta hora já deve andar a namorar as privadas. E ainda vamos assistir ao cúmulo da imoralidade - que é o José Eduardo Moniz, o homem de mão, o homem que moldou a RTP à sua semelhança, depois de minar a TV pública e liquidar a sua credibilidade, sair para outro canal e passar a concorrer com a própria RTP."
Passados nove anos - nove anos -, caías nos braços desse mesmo José Eduardo Moniz, na TVI. Ataque de amnésia? Ou outros valores, bem mais altos, se levantaram?
Consciência, Miguel?
Espero que continues em paz com a tua.
A minha, garanto-te, não me pesa.

- artido do "DN" -

Muito gostava eu de assistir a um frente a frente entre estas duas biscas, de um ouvi dizer que era mentiroso, de outro que era borrachão, já não me lembro quem era o quê, esta minha cabeça...

PS: A RTP deve estar mesmo à rasca ou o Marinho já nem liga à imagem, que pariu, daaaa-se, que p... de barba, está mesmo desleixado.

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