sexta-feira, 15 de junho de 2012

FADISTA? EU?

Nas minhas (há muito passadas) noites de boémia, vi-me por várias vezes “caído” no meio do mundo do fado.
Houve quem dissesse que eu até cantava bem, não me recordo, sei que das poucas vezes que cantei em público estava com um grão, grão? Não, com uma espiga na asa.
A ambiência do fado é-me estranha, e porquê?
Admito que no norte o meio não tem a excelência da capital, apraz-me no entanto verificar que em Lisboa, tirando as tasquinhas tradicionais, o fado é demasiadamente snobe, eu que não entendo nada de fado acho que Carlos do Carmo é, como hei-de dizer?
É um fadista de plástico, não consigo ouvir-lhe a alma, a senhora sua mãe passou-lhe só a vontade de ser fadista.
Claro que houve enormes fadistas, o Fernando Maurício foi para mim o melhor de todos, hoje classifico como maior expoente o Camané.
Perguntarão, porque raio este gajo que só ia aos fados para beber copos vem mandar bitaites sobre a fadistagem?
Eu explico…
Faleceu hoje um homem que há aproximadamente 50 anos me deixou boquiaberto, nunca tinha visto ninguém tocar guitarra, ou qualquer outro instrumento como ele, falo de Raúl Nery,
Corriam os anos 60 do século passado e eu, como fazia muitas vezes, fui ter com o meu falecido irmão (Óscar) ao trabalho, estava empregado na casa Ruvina, na Rua Formosa/Porto, que era propriedade do seu padrinho Óscar Ruvina.
Enquanto esperava que ele saísse e me trouxesse para casa deambulava pelo estabelecimento, mexendo em tudo quanto era instrumento, quase sempre chamado à atenção pelo senhor Mário que é hoje dono da casa “Lamiré”, quando ele me dizia “não mexas nisso rapaz”, eu fugia para a oficina, lá, ficava a admirar o velho César (afinador), a colar uma escala numa viola, ou um tampo, a meter um pistão num trompete, a afinar um piano, ou, como nesse dia, a tocar, tipo, à desgarrada, com um senhor que eu não conhecia e, só uns anos mais tarde pela televisão vim a saber que se chamava Raul Nery. Fiquei colado ao mocho (banco de madeira) a ouvir os dois dedilhar, como nunca tinha ouvido, as guitarras portuguesas.
Alguns anos mais tarde reencontrei Raul Nery em Lisboa no “Senhor Vinho”, não atuava, jantava, e não é que me reconheceu?
O senhor também era bom de memória visual.
Nunca mais o vi, e hoje soube que faleceu.
Aqui fica a minha singela homenagem a um homem (que quanto a mim) com a sua sábia maneira de tocar guitarra portuguesa muito fez para que o fado fosse considerado património mundial da humanidade.

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