Creio que é assim que agora se chamam as antigas mulheres-a-dias.
O Figas, tal como eu, lembra-se bem do tempo das sopeiras, criadas de servir, não lembra?
O Figas, tal como eu, lembra-se bem do tempo das sopeiras, criadas de servir, não lembra?
Eu recordo-me bem de ver crianças, meninas de 10 anos, e até menos, carregadas, a deitar os “bofes pela boca”, atrás das senhorecas.
Dizem os mais antigos que fominha e porrada não lhes faltavam, que havia quem escolhesse os restos de comida, o que sobrava de melhor para os cães ou gatos, a “lavagem” era para as criadas. Já para não falar dos filhos de pai incógnito que muitas vezes eram filhos dos patrões, ou dos patrõezinhos.
Recordo-me de um Sábado de manhã, pelos anos 70, deambular com um grupo de malta da minha idade pelo Bolhão, curiosamente faço-o ainda hoje com alguma frequência, e aperceber-me de uma criadita, de joelhos, a procurar uma moeda (na zona das peixarias) que a patroa tinha deixado cair, procurou, procurou, sempre de gatas, mas não conseguia dar com o raio da moeda.
A “dona” berrava “são dois tostões, caíram praí”, e a catraia lá continuava a sujar as meias brancas da farda que lhe cobriam os joelhos.
Até que a “madama” vislumbrou a moeda e disse “está aqui”, inclinou-se para a apanhar e… Catrapum, caiu abaixo dos tacões e esparramou-se no chão cheio de água de lavar o peixe…
A miudinha não se conteve e soltou uma risada sonora, as peixeiras lá levantaram a D. Perliquitetes, mas a criadita continuava a gargalhar, não parava, não conseguia, a patroa bem a mandava calar mas não havia meio, escusado será dizer que contaminou todos os que estavam à volta, naquele canto, à entrada do lado direito, estavam mais de uma dúzia a rir-se.
De repente, raivosa, a “lady”, espetou com a carteira na cabeça da serviçal, fazendo-a voltar ao chão, de costas, desamparada.
O Figas pode imaginar o quadro, abriu-se o dicionário tripeiro, e se a senhora não se afastasse depressa era bem capaz de ter levado com algum goraz de pinta nas ventas.
Na província passava-se mais ou menos o mesmo com os pobres que andavam à jorna, trabalho de sol a sol, pouca comida, uma enxerga para dormir, e os mais novitos tinham muitas vezes direito a uns estaladões para trabalharem mais depressa.
Hoje muitas dessas antigas sopeiras e mulheres-a-dias estão muito bem na vida, há-as até formadas e a ocupar cargos importantes, algumas conseguem falar desse seu passado, como lamento, como exemplo, e nalguns casos com ódio, pudera…
Outras, escondem esse pedaço das suas vidas, têm vergonha, e, casos há em que são agora elas que fazem a vida negra a quem as serve, neste ultimo caso… “não sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu”!
Conheço vários casos de alunas universitárias que nas horas vagas fazem serviços extra, limpar casas, engomar, tomar conta de crianças, de pessoas idosas, tal como fazem um part-time numa qualquer empresa.
Como é que os nossos emigrantes (a maioria) ganhavam dinheiro? Não era fazendo aquilo que os naturais não queriam fazer?
Todo o trabalho é digno, todos devem ser bem pagos, claro que o lixeiro que passa a vida a respirar o mau hálito dos contentores do lixo, que na maioria dos casos até trabalha à noite empoleirado numa pequena soleira de um camião, deve ganhar mais que um escriturário, “penso eu de que”.
Por isso, amigo Figas, pague bem à mulher a dias, e reclame com o “manjor” quanto ao resto, ahahahahah…
NÃO É NADA A QUE ELE NÃO ESTEJA JÁ ACOSTUMADO!!!
Abraço do
Des Contente
Abraço do
Des Contente
2 comentários:
Com um Tamboril,que é um peixe bonito,devia levar o "Rio", mas ele não se atreve a ir ao Bolhão.
Um abraço
E que tal com um tubarão-martelo???
ah ah ah
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