Não fosse a crise, os 23% de IVA aplicados à restauração e o Costa até era capaz de fechar os olhos, até fechou, mas a Zulmira que é de pelo na venta arreou a giga, ouvi até dizer que o primeiro a levar nas beiças foi mesmo o marido, o Costa.
Na rua há 4 cafés, no entanto era, digo era porque não acredito que volte a abrir tal foi o estado em que deixaram mesas, cadeiras, balcões, montras, cozinha, e até a zona de fabrico, é que além dos tradicionais cafés, meias-de-leite, galões, cariocas, chás, cervejas, sumos, francesinhas e pratos do dia, também era pão-quente.
Como eu dizia, no café do Costa era um entra e sai, os donos dos outros 3 (sobretudo o que fica lá mais para o fim do bairro, que tem sempre a casa às moscas) já rumorejavam “ali há poeira”, eu só lá entrei uma vez, não acredito, o senhor tem cara de boa pessoa, até vai todos os domingos à missa das 7 antes de abrir o estabelecimento, já a senhora dele, não quero dizer que tenha cara de traficante, não… Tem feições, e é regateira, por causa de uma estridente discussão dela com uma cliente é que nunca mais lá entrei.
Hoje cheguei a casa pouco passava das 6 da tarde, como sempre passei em frente ao café, reparei num pequeno ajuntamento à porta mas não liguei, passada mais ou menos meia hora, estava eu na cozinha, comecei a ouvir gritos, vidros a partir, e logo de seguida sirenes, espreitei à varanda e…
Era uma autêntica batalha campal, até já lá estava o 112, a polícia dava ideia de estar numa manifestação daquelas que têm agitadores deles (polícia), era sempre a aviar, batiam em homens mulheres, novos ou velhos, e nas crianças, entretanto chegaram reforços, polícias de choque com “shotguns” e tudo, fechei a varanda, não fosse levar com algum balázio perdido.
Quando senti que a confusão tinha amainado voltei a espreitar, continuava a rua cheia de gente, havia gente deitada no chão a gemer, 6 ambulâncias com as portas escancaradas faziam as vezes de um hospital de campanha, havia mesmo bombeiros a fazer pensos a pessoas sentadas nos passeios.
Nunca mais vou esquecer duas situações que se destacavam de toda a barafunda, o senhor Alfredo, morador no 3º. esquerdo da torre 2, homem dos seus 87/88 anos, que gritava a plenos pulmões “SÓ QUERIA SABER QUEM FOI O FILHO DA PUTA QUE ME DEU UM MURRO, AJUDEM-ME A PROCURAR A DENTADURA”, e o senhor Ricardo, que não sendo velho, é cego e anda numa cadeira de rodas, ficou assim há mais de 20 anos quando caiu do segundo andar de uma moradia que tentava assaltar. O tal senhor Ricardo também gritava, parece que ninguém lhe bateu, mas no meio da balbúrdia roubaram-lhe o cordão de ouro e o telemóvel.
Eram já 10 da noite quando a polícia obrigou o Costa a fechar o café e fez dispersar o pessoal, os mais aleijados foram transportados ao hospital e a rua está calma, mais calma do que é costume.
Fiquei a matutar, porrada na rua? É normal, porque este puto bateu naquele, porque partiram um vidro ao jogar à bola, porque este mandou um “sms” a dizer que a mãe do outro é uma vaca, porque o Zeca apalpou o cu à Luísa, a Fernandinha emprestou 100 euros à Irene e ela não paga, depois mete pais maridos e mulheres e o confronto dá-se, banal, agora, como hoje? Nunca tinha visto.
Decidi telefonar para a esquadra, podia ser que se o Arnaldo (um polícia meu amigo) estivesse de serviço me dissesse a razão de tamanha chinfrineira.
E estava, e já sei tudo…
É que por causa da crise e do desemprego grande parte do pessoal do bairro decidiu poupar como e onde pode, com a poupa na água tramou-se o Costa, as casas de banho não tinham parança desde que ele abria a porta até fechar, há dias fechou uma hora mais tarde porque o senhor Carneiro foi defecar mesmo à hora do fecho, como andava com prisão de ventre nunca mais de lá saía.
Parece que o Costa levava a coisa na boa, entre 4 mijadelas e uma cagada sempre havia um ou outro que tomava um café ou bebia um Favaios, quem não aguentou foi a mulher, a Zulmira que disse à polícia que todos os dias à noite, ao fechar, havia merda e mijo por todo o lado, até nas paredes.
Tudo culpa de quem?
5 comentários:
Não poderia deixar de publicar, trechos, da excelente prosa, mesmo à Porto Tripeiro.
Abraço
Gosto em revê-lo.
Já agora bom São João, vou beber, mais um copo, à sua saúde.
Abraço.
José Vaz.
Há meu S.João das Fontainhas!
Do Bairro Herculano onde seguia perdido de amores e lá pela madrugada acabava a "malta", da rusga, nas tascas da Rua de Cima de Vila!
A Ribeira era uma morta... a festa, rija, era mesmo nas Fontaínhas....
E depois do nascer do sol seguia-se para a praia do "Borras", dar um mergulho, junto à capela do Senhor de Além!
Abraço da Tailândia
As Fontaínhas já era, agora, na noitada, vai-se lá de carro.
Mudaram tudo para a Praça do Cubo na Ribeira, a festa do S. João do Porto está desfigurada, já se anda à vontade pelas ruas, e só 3 ou 4 bairros mantêm o bailarico.
Abraço.
Quem teria sido o filho da puta que teve a ideia de roubar o S.João das Fontainhas e levá-lo para a Ribeira!
Abraço
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