segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Boatos sobre os candidatos esquentam campanha (Autora: Marilia Martins)

Hillary Clinton tem um caso amoroso com sua assistente muçulmana Huma Abedin. Barack Obama, quando jovem, teve contato com extremistas muçulmanos. Rudy Giuliani tem ligações com a máfia de Nova York, frequenta danceterias vestido de drag queen e faz doações para sociedades que prometem livrar a cidade de filhotes de cães e gatos. Mitt Romney tem várias amantes, assim como seus filhos, com o apoio de uma sociedade secreta de mórmons. John McCain adotou uma menina negra porque teve uma filha ilegítima com uma empregada. Fred Thompson esconde um passado de drogas e violência, ds tempos em que era playboy. E tudo isto circula na forma de emails e cartas anônimas que chegam, aos milhões, lotando as caixas postais de casas e computadores dos eleitores dos primeiros estados a eleger seus candidatos na corrida presidencial de 2008: Iowa, New Hampshire, Michigan, Nevada, South Caroline e Florida, com datas de votação previstas para os dias 3, 8, 15, 19 e 29 de janeiro.


A técnica de espalhar boatos e acusar os adversários de manter “segredos inconfessáveis” já virou tradição nas campanhas eleitorais americanas, mas parece ter sido decisiva para tirar votos de John Kerry, na última corrida contra George W. Bush. Kerry se orgulhava de suas medalhas como herói da guerra do Vietnam enquanto George W. Bush havia prestado serviço militar na Guarda Nacional, a única corporação militar em que não se corria o menor risco de ir para a frente de batalha nos anos 60 e que, por isto mesmo, era destinada aos filhos das famílias ricas com muita influência política. Pois a campanha de Kerry foi dramaticamente ferida começaram os rumores de que ele mentira sobre seus atos heróicos e que ele jamais fora comandante dos perigosíssimos Swift Boats, de ataque ao inimigo no Vietnam. Nos bastidores, comentava-se que os rumores faziam parte da estratégia de Karl Rove, o arquiteto da campanha de Bush. Mas Kerry demorou a defender suas medalhas de guerra, descobriu-se que ele não tinha tantos feitos heróicos quanto dizia e Swift Boat virou sinônimo de boato daninho, a ponto de Barack Obama, esta semana, ter acusado assessores de Hillary Clinton de espalhar mentiras para fazê-lo embarcar num “swift boat” (que poderia ironicamente ser traduzido como “canoa furada”). Este mês, a onda de boatos aumentou de forma assustadora, especialmente no estado de South Caroline.


_ South Caroline é um estado em que os candidatos matam ou morrem _ diz Rod Shealy, um veterano consultor político de candidatos republicanos _ e desta vez, mais do que nunca. Os ataques anônimos agora são diários e todos têm assessores para fazer este trabalho sujo. O objetivo é fazer com que a grande mídia passe a tematizar esses rumores em suas reportagens, de modo a desmoralizar a maioria dos candidatos e deixar o campo livre para uns poucos. Nunca se fez uma campanha tão suja quanto a atual.


Shealy faz parte do time dos assessores que são chamados de “cães de guerra”. Neste time, um dos mais famosos é Warren Tomkins, que ganhou o apelido de “Boca do inferno” por arrasar as pretensões de McCain nas últimas eleições com a tal história da filha adotiva. McCain e sua mulher de fato adotaram uma menina em Bangladesh, mas Tomkins espalhou o boato de que a garota era filha ilegítima do senador do Arizona e minou seus votos nos redutos conservadores, preciosos para um republicano. Tomkins, que fez campanha para Bush, agora foi contratado por Romney. Por seu lado, McCain contratou Richard Quinn,um “cão de guerra” que está em primrieo lugar na lista de suspeitos de ter espalhado pela internet uma fotomontagem de Rudy Giuliani vestido de drag queen, ilustrando um texto sobre as “noites quentes” do ex-prefeito de Nova York.



_ Os principais alvos desta guerra de boatos, hoje, são sem dúvida Hillary Clinton e Rudy Giuliani, exatamente porque são os candidatos que estão à frente nas pesquisas de opinião _ avalia o comentarista político Lee Bandy.

E é preciso muito cuidado na hora de responder. Depois de reclamar que estava sendo vítima de uma “campanha para jogar lama que se pautava pelo manual dos republicanos”, Hillary Clinton teve que prestar contas ao movimento gay americano, esclarecendo que não considerava “lama” o fato de ser alvo de um boato de ter uma relação homossexual com a tal assistente. Os rumores,aliás, fizeram com que a saudita Huma Abend, de 32 anos, considerada hoje uma das mais belas assessoras na atual campanha política, virasse matéria em várias revistas e jornais americanos. Ela é filha de um professor saudita (que morreu quandoela tinha 17) e de mãe paquistanesa, cresceu em Jedá, na Arabia Saudita, fez faculdade nos EUA, entrou para a George Washington University, em Washington, para estudar relações internacionais e empregou-se como assistente de campanha de Hillary já na primeira eleição para senadora. Huma mora em Washignton e tem sido uma das mais próximas auxiliares de Hillary no contato com políticos árabes, pela fluência da língua e pelos conhecimentos de relações internacionais e direito. Um ex-assessor de campanha de Hillary Clinton, Jim Kennedy, diz que é mesmo difícil lidar com a boataria na campanha:




_ Os boatos são como uma caixa de Pandora: uma vez que você abre, tudo o que sai dali é incontrolável... Não é como a mídia, que você pode processar e ganha direito de resposta. Ao contrário, é algo anônimo, que ninguém diz, mas que todo mundo ouve, e vai minando a confiança dos eleitores, os de direita e os de esquerda. É muito difícil combater este tipo de arma eleitoral. Ninguém sabe porque uns boatos pegam e outros não.


O campo mais fértil para este tipo de batalha, claro, são os blogs, que nos EUA viraram uma rede paralela de mídia, por vezes tão poderosa quanto a dos grandes jornais e canais de TV. Os boatos, porém, não circulam por blogs famosos, como The Huffington Post ou The Drudge Report. Eles circulam por blogs menores e menos conhecidos, muitas vezes criados apenas durante o período da campanha eleitoral, como The Shot ou The Palmetto Scoop. E a onda de emails se espalha numa velocidade tão intensa que já começa a ser tema de antiblogs, assinados por eleitores. Mike D’Asto, um cameramen de 29 anos residente em Nova York, é responsável por um dos antiblogs mais acessados na cidade quando se trata de saber se uma notícia está circulando a partir de um “cão de guerra”. Trata-se de Myrightwingdad.blogspot.com (algo como o “site do meu pai reacionário”), um blog no qual ele replica e comenta os emails de política que recebeu.


_ Comecei a fazer isto porque realmente recebia muitos emails do meu pai, que é muito conservador. Ele recebia esse tipo de propaganda e simplesmente repassava para mim. Minha caixa postal ficava lotada. Então resolvi abrir o blog para convidar outros eleitores a comentarem os boatos. Foi quando descobri que todo mundo estava com a mesma dor de cabeça que eu. E olha que esta campanha ainda nem começou... _ avalia D’Asto.(in/ O GLOBO ON LINE)

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