Vai contra os meus princípios referir coisas do meu passado que possam ferir idiossincrasias, mas perante tanta insistência, vou mesmo desobedecer às instruções do meu advogado que se tinha proposto tratar ele mesmo (gratuitamente) do assunto.
Já lá vão mais de 30 anos, e um belo dia fui abordado por um desconhecido em plena festa das Cruzes de Barcelos, respeitosamente o cavalheiro rogava-me o favor de lhe ceder algum do meu tempo.
Eu estava com a mãe do meu filho e os meus sogros à época, pedi-lhes licença e desloquei-me com o meu interpelador para um banco dum jardim cujo nome desconheço, recordo que no mesmo havia uma feira de tasquinhas.
Sempre muito educado, o senhor identificou-se, e sem rodeios foi directo ao assunto.
Alguém lhe terá dito que haveria qualquer coisa entre mim e a sua esposa que trabalhava numa fábrica de louças regionais onde regularmente a empresa que me empregava carregava, já não recordo muito bem, mas julgo que a famosa Rosa Ramalho estaria ligada a essa firma exportadora.
Pelo começar da conversa vi que iria ser demorada, inventei uma desculpa e disse aos meus familiares que se fossem 18 horas e eu não tivesse chegado que recolhessem ao Porto que eu cá viria ter.
Fiquei assim com todo o tempo necessário para esclarecer o senhor que me parecia bastante perturbado, mas sempre muito educado.
Neguei peremptoriamente qualquer ligação à bela mulher que ele dizia ser sua esposa, a não ser o estritamente necessário por razões profissionais, mais, ele sabia que nem sempre era eu quem se deslocava a Barcelos com o fiel da alfândega do Porto a selar os camiões, se a sua amada nunca se deslocava ao Porto, se durante o horário de expediente não saía das instalações do emprego, se almoçava com as colegas na fábrica e se ele marido a levava de manhã e a esperava ao fim da tarde, como poderia a senhora ser-lhe infiel comigo?
Senti-me bode expiatório em todo aquele caso, muito mais quando soube que quem tinha levantado tal boato fora o encarregado da fábrica, não interessa o que me passou pela cabeça ao saber de onde vinha a marosca, exigi ser de imediato levado perante o boateiro.
Tudo se desmoronou numa enxurrada de copos de vinho verde tinto bebidos pelo “marido traído” e o (traidor?) noveleiro, inicialmente de forma tímida mas passados minutos euforicamente, saí de fininho.
Para evitar confusões, nunca mais voltei à tal fábrica e também nunca mais vi ninguém, patrões, empregados, marido, mulher, nada, foi como se tivessem morrido, e eis que há uns tempos me aparece aqui alguém a remexer no assunto.
Alguém a quem parece incomodar a minha relação de bens, personalidade que parece querer insinuar que o que tenho de meu foi ganho de forma ilícita.
Roubado, desviado, traficado, apanhado, fosse de que forma fosse o que eu tenho é meu, mais, não tenho nada em meu nome, já está tudo partilhado, mas garanto que tirando umas prenditas, algumas de valor substancial, tudo foi ganho com trabalho honrado e honesto, mas se duvidas houverem as autoridades são pagas por nós para fazerem o seu trabalho, quem se sentir prejudicado só tem de exigir que se faça justiça, mesmo que as possíveis injustiças cometidas afectem a sociedade e ninguém em particular.
Não sei quem teria desenterrado o passado nem com que intenção, o pai? Não acredito, e mãe? Menos ainda, já não percebo nada. A não ser que…
Pois é, pode ser isso, há realmente um elo de ligação, só pode ter sido ela, mas que se dane, também já passou.
Fica então um último esclarecimento para que não fique a meditar mais no assunto que de tão velho já cheira mal.
Pelo que eu soube, a senhora sua mãe nunca teve nada dela a não ser os trapos que vestia e pagos pelo senhor seu pai, logo nada do meu património pode ter sido subtraído ao seu, e tenha juízo, não levante sobre a senhora sua mãe suspeitas que julgo não gostará que levantem a sua mulher.
Quer um conselho?
Vá à bruxa, aproveite uma bem jeitosa de Barcelos.
Des Contente
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
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